A revista "Nova Escola" na edição junho/julho de 2012, publica pesquisa com o título "Educação Física em xeque", que trata de assuntos, entre outros, da "valorização do esporte X aulas mais diversificadas".
Confira abaixo a matéria completa:
Educação Física em xeque
Esporte é
valorizado em estudo nacional, mas pesquisadores sugerem aulas mais
diversificadas
Divulgada
recentemente, a pesquisa Educação Física nas Escolas Públicas Brasileiras
reacendeu o debate sobre o currículo dessa disciplina. O estudo traz um
panorama sobre as condições para a realização de esportes e atividades físicas.
No entanto, deixa de lado a prática e a reflexão sobre outras manifestações da
cultura corporal, como a dança e as brincadeiras.
Uma das principais conclusões do estudo diz respeito à falta de infraestrutura
das escolas pesquisadas: 30% delas não têm espaço destinado às aulas de
Educação Física. O levantamento foi feito pelo Instituto Brasileiro de Opinião
Pública e Estatística (Ibope), em parceria com o Instituto Ayrton Senna (IAS),
a ONG Atletas pela Cidadania e o Instituto Votorantim, todos em São Paulo.
Entre novembro e dezembro de 2011, foram entrevistados por telefone professores
da área e gestores de 450 instituições de Ensino Fundamental e Médio das cinco regiões
brasileiras, das zonas urbana e rural.
Ana Lúcia Lima, diretora-executiva do Instituto Paulo Montenegro, área social
do Ibope, destaca a falta de materiais, em especial o fato de 13% das escolas
não terem uma bola de futebol. "Esse é um dos itens mais óbvios para a
prática de esporte no Brasil e também é um objeto de baixo custo", analisa
(veja no quadro da página seguinte o levantamento sobre outros recursos que
os professores dizem possuir na escola).
Raí Souza Vieira de Oliveira, ex-jogador e presidente da Atletas pela
Cidadania, conta que a proposta da ONG, agora, é promover uma reunião com a
presidente, Dilma Rousseff, e criar um comitê envolvendo vários ministérios
(Esportes, Educação, Saúde e outros). Os resultados da pesquisa também serão apresentados
a prefeitos das cidades que sediarão a Olimpíada e a Copa do Mundo. Com isso, o
grupo espera convencer os gestores públicos de que o esporte na escola pode
contribuir para a formação do caráter das crianças e melhorar sua autoestima.
O levantamento também mostrou que 94% dos docentes de Educação Física têm
Ensino Superior, sendo que 83% possuem formação específica na área e 44%
especialização. Mas Marcos Garcia Neira, da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP), ressalta que nem sempre a trajetória
universitária garante qualificação para a docência. Ele também lembra que
pesquisas recentes detectaram cursos de licenciatura em que o ensino de
Educação Física não é devidamente abordado.
Um exemplo é o estudo Desvelando Frankensteins: Interpretações dos
Currículos de Licenciatura em Educação Física, de 2009, que focou
instituições públicas e privadas na região metropolitana de São Paulo. De
acordo com a análise, os cursos de formação inicial contribuem com as
representações distorcidas sobre o trabalho docente nessa disciplina e costumam
valorizar apenas as modalidades tradicionais.
30% das escolas dizem não ter espaço
destinado às aulas de Educação Física
Fonte
IBOPE
Educação Física em xeque
Esporte é
valorizado em estudo nacional, mas pesquisadores sugerem aulas mais
diversificadas
Competição
versus cultura corporal
A pesquisa realizada pelo Ibope se restringiu a analisar o fomento às práticas
esportivas nas escolas. Mas há outra linha de pensamento e de prática nessa
área, que a considera como um espaço para as produções humanas que envolvem o
movimento.
Essa discussão não é nova. A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), de 1961, já considerava a Educação Física uma atividade
prática, voltada para o desempenho técnico e físico do aluno. Após mostrar-se
infrutífero, esse modelo começou a ser questionado durante a década de 1980 e
as aulas da disciplina passaram a valorizar a perspectiva da cultura corporal.
Diante desse contexto, o professor Neira reforça que reduzir o ensino da
Educação Física ao esporte é um retrocesso. "A sala de aula, o pátio e a
biblioteca podem ser tão necessários quanto a quadra e o campo", afirma.
Segundo ele, uma análise semelhante à do Ibope, feita com base nesse viés mais
abrangente, poderia investigar outros materiais e instalações que devem ser
utilizados.
Fabio Luiz D'Angelo, coordenador pedagógico do Instituto Esporte &
Educação, em São Paulo, concorda com a diversificação dos espaços. Mas ele
pondera que isso não exclui o direito de o aluno estudar em um local que tenha
quadra. Segundo o Censo Escolar de 2010, apenas 32% das escolas de Ensino
Fundamental possuem esse recurso no país.
"A falta de legitimidade e a dificuldade em justificar a presença da
Educação Física é um velho e conhecido problema", lamenta D'Angelo. Todos
os times concordam, portanto, que há muito a ser feito para que essa área vença
as barreiras e seja reconhecida por si só como uma disciplina importante.
Times diferentes
Duas visões sobre a prática da disciplina mostram a diferença entre as
abordagens das aulas
"A Educação Física deve proporcionar a aproximação, a experimentação, a
análise crítica e a valorização das formas de produção e expressão corporal
presentes na sociedade."
Marcos Garcia Neira, professor da USP.
"O esporte é uma vertente da Educação Física e uma das ferramentas
principais da aula. Contribui com a disciplina, com a criação de valores, com a
socialização dos alunos e com o desempenho deles em outras áreas."
Daniela Castro, diretora-executiva da ONG Atletas pela Cidadania.
Prática padronizada
Alguns itens que a escola possui, segundo o professor de Educação Física (em
%)
Fonte Ibope